O perigo das letrinhas pequenas que não lemos

A questão da privacidade no documentário Sujeito a Termos e Condições

Cada vez que apertamos o botão que diz eu concordo, sem fazer a menor ideia sobre o que estamos concordando, estamos, na verdade, renunciando a pequenas porções da nossa privacidade. Usadas intencionalmente ou não, as letrinhas pequenas com que são escritos os termos e condições de uso costumam funcionar como um incentivo permanente ao movimento de aceitar tudo sem ler, sem pensar duas vezes.

A verdade é que, além disso, quase sempre estamos com pressa – e queremos logo chegar à próxima página e ter acesso ao conteúdo que buscamos. E é nesse exato momento que entregamos nossas informações e renunciamos à privacidade.

O documentário Sujeito a Termos e Condições foi lançado em 2013, mas sua temática permanece extremamente atual. Nele, o diretor Cullen Hoback mostra como, ao longo dos últimos anos, nossos comportamentos foram alterados de tal forma que hoje temos uma grande facilidade de compartilhar informações e dados pessoais na internet, mesmo não sabendo para que esses dados são usados e quem tem acesso a eles.

Há quem diga que a privacidade não existe mais. Ela morreu faz tempo e nós, usuários, só agora nos damos conta do que aconteceu.

Apesar de focar especialmente na experiência norte-americana, o documentário escancara o que é feito com as informações disponibilizadas nas redes quando se aceita os termos e condições de um contrato de uso na internet. E, principalmente, como as empresas, e até mesmo os governos, podem se apropriar desses dados por meio de mecanismos digitais.

Casos Reais

Uma coisa é certa. Assistindo ao documentário fica claro que não temos noção da quantidade de informações que as empresas e plataformas digitais têm de seus usuários. Algumas cenas mostram, inclusive, como o governo dos Estados Unidos tem acesso a esses bancos de dados e, com isso, monitora sua população a todo momento.

Uma das situações retratadas no documentário é a de um adolescente que foi interrogado como terrorista pelo FBI (Federal Bureau of Investigation), uma espécie de Polícia Federal dos Estados Unidos, por uma simples mensagem postada em seu Facebook. Algo semelhante aconteceu com um roteirista que, pesquisando no Google temas para um seriado policial, foi identificado e igualmente visitado em sua casa como provável assassino.

Casos como esses mostram como estamos vulneráveis – quanto mais informações postadas e compartilhada nas redes sociais, menos privacidade sobre quem somos, o que fazemos e pensamos etc.

Tomar consciência e buscar alternativas

Segundo o documentário, levaríamos 180 horas por ano para ler tudo que assinamos. Em uma sociedade imediatista, como a nossa, é fácil entender o porquê de quase ninguém se dedicar à essa tarefa.

Ao mesmo tempo, cabe às empresas oferecerem informações precisas e claras – assim como repensarem e mudarem os formatos de apresentação dos contratos, a partir de abordagens como o Visual Law, por exemplo. Para que esse processo aconteça de forma efetiva seria preciso, portanto, que as empresas fossem mais responsáveis, usuários conscientes de seus direitos e um governo comprometido com a fiscalização da proteção de dados da população.

Quando postamos algo no Facebook, fazemos uma pesquisa no Google, pesquisamos sobre algum produto, assistimos alguma série, enfim, estamos produzindo dados que serão armazenados e disponibilizados aos nossos provedores de serviços. Talvez eles saibam mais sobre nós do que nós mesmos.

Nesse sentido, o documentário é uma ferramenta importante para entendermos a importância de um uso consciente das redes sociais e ferramentas digitais que usamos no dia a dia. É a partir do momento em que entendemos como essas redes de dados funcionam que podemos ter mais controle das nossas ações e exigir mudanças e controles que protejam nossa privacidade.

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Talquimy

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